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Que “dialeto” você fala com a sua família e os amigos?

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Que “dialeto” você fala quando está com a sua família ou com os seus amigos?

O que é um dialeto?

Um dialeto, de forma geral, é uma modalidade regional de uma língua, caracterizada por certas peculiaridades fonéticas, gramaticais ou léxicas. Às vezes também, um dialeto é considerado uma variedade sub-padrão ou não-padrão de uma língua, associada a grupos que não contam com prestígio social. Geralmente pertence a uma das subdivisões que se podem aplicar a determinada língua, utilizando como critério básico a região geográfica ou a camada social a que pertence o falante. Como base nisso, que “dialeto” você fala?

Como saber que “dialeto” você fala?

Aqui no Brasil pode-se perceber o que podemos classificar de dialetos. Não se trata apenas de sotaque porque em muitas regiões existem todo um repertório cultural recheado de histórias, cantigas, costumes e um vasto vocabulário que “destoa” belamente do que normalmente consideramos ser o nosso português brasileiro padrão. A verdade é que dependendo da região, da família ou dos amigos que você tem e convive, é possível que você fale algum tipo de dialeto e nem mesmo se dê conta disso por ser algo muito natural pra você. Porém, falar um dialeto específico ocorre com muito mais frequência do que você imagina.

Quer consciente ou inconscientemente, nós naturalmente ajustamos automaticamente o nosso jeito de falar e até o nosso vocabulário quando estamos com pessoas desconhecidas ou em um ambiente formal, para uma configuração “padrão”. Ao passo que, quando estamos entre as pessoas mais achegadas como os nossos amigos ou os nossos familiares, ajustamos o nosso linguajar para o modo “home” e, aí meu filho, só entende mesmo quem é “lá de casa”. Que “dialeto” você fala? Porque esse “dialeto” mais informal o identifica como parte de um grupo específico. E que apenas o nosso “entourage” ou a nossa “panelinha” entendesse.

A origem familiar do meu dialeto

O dialeto que você vai ver logo abaixo, eu diria que pouquíssimas pessoas ou quase ninguém fora do meu círculo de pessoas mais achegadas como a minha família e os meus amigos mais próximos, conseguiriam entender. Trata-se dum dialeto português do Brasil (ou dialeto luso-brasileiro), o dialeto nordestino ou dialeto baiano. É uma mistura de brasileirismos (dialeto brasileiro da língua portuguesa), gíria local, regionalismos (dialeto regional brasileiro), expressões nordestinas e até palavras cunhadas por nós mesmos. Uma ou outra palavra talvez alguém até faça uma ideia, principalmente se a pessoa for nordestina, mas a grande maioria faz parte de um dialeto bem mais fechado e exclusivo. Metade das palavras abaixo aprendi em minha infância com o meu avô materno, o Sr. Alberto, já falecido, que saudade! E também com os seus filhos, uma família tipicamente baiana, incluindo a minha mãe, é claro.

O meu avô fazia o contrário do Cebolinha, personagem do Maurício de Sousa, ele trocava o “L” mudo entre sílabas, por “R”. Então, algumas palavras como “almíscaro”, “calça” e “fidalguia” por exemplo, ele pronunciava: “aRmisco”, “caRça” e “fidaRguia”. E no caso da palavra “almíscaro” havia ainda uma síncope (eliminação de fonemas no interior de uma palavra) ao ser removido as letras “a” e “r” seguintes a letra “c”. Já em algumas outras palavras com “L” mudo entre sílabas, ele adicionava a letra i”i”. Assim, dificuldade virava “dificuLidade”, faculdade, “facuLidade”, etc.

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A evolução e desenvolvimento do dialeto

Mesmo tendo uma bagagem cultural linguística familiar bem peculiar, com o passar dos anos, você passa a ter novos contatos sociais. Mais tarde no colégio, na faculdade, no trabalho, com outras famílias e através de amizade ou relacionamentos amorosos como namoro, casamento, etc. Então, durante o seu desenvolvimento educacional, profissional e emocional você acaba criando círculos de amizade e de convivência que te afetam profundamente. Portanto, aquela bagagem cultural de infância se funde em parte com a bagagem cultural de outras pessoas influentes de seu convívio. Com o tempo, seu modo de se expressar, seu vocabulário, enfim a sua bagagem cultural consequentemente se intumesce, se desenvolve, evolui e se torna, por fim, mais rica e interessante. Não é verdade?

Uma amostra de vocabulário do meu dialeto atual

Aí vai uma amostra do meu dialeto familiar atual também influenciado por amigos ao longo dos anos:

Palavras que começam com a letra “A”

absurdado“, incrédulo, surpreso, boquiaberto; “acabrunhado“, envergonhado, humilhado; “alarido“, clamor de vozes, gritaria, algazarra, celeuma, choradeira, lamúria, lamentação; “alcoviteira“, mulher que serve de intermediário em relações amorosas; leva-e-traz; “almíscaro (variação de almíscar): fedor, cheiro ruim, cheiro de peixe, de maresia; “alumiar“, dar lume, luz ou claridade suficiente a, iluminar, aluminar, acender; “aperreação“, aperreio, chateação, aperto, dificuldade; “arrastar a asa“, insinuar-se junto a alguém com intenções amorosas; “arrelia“, zanga, aborrecimento, irritação; “arrodear“, rodear, andar em roda de, percorrer em volta ou em giro, contornar; “assuntar” dar ou prestar atenção a, informar-se sobre, espreitar; “atarantado (atarentado):, aturdido, atrapalhado, estonteado; “atinar“, dar fé ou tino de, notar, compreender, atentar, reparar.

Palavras que começam com a letra “B”

balaio“, um cesto ou saco de mantimento; “balangar“, balançar; “bilouro“, (corte de) cabelo; “biri“, lanche, petisco; “bocó“, bobo, infantil, leso; “bocada“, pessoa que alguém paquera, namoradinha, “boduim (variação de bodum), fedor exalado por pessoa ou por animal, catinga, inhaca; “bolinar“, procurar estabelecer contatos libidinosos com alguém, sobretudo em aglomeração de pessoas, em veículo, cinema, etc, sarrar; “bolostrô“, pessoa feia e fora de forma; “boião“, homem tão enorme quanto bobo, que só tem tamanho, leso; “bulir“, tocar, mexer, mover, movimentar, seduzir, deflorar (a moça).

Palavras que começam com a letra “C”

cacunda, cupim“, as costas, lombo, dorso, corcunda; “cão“, o diabo; “cabeça-russa“, as cãs, apelido de quem tem o cabelo grisalho; “cabelo de lambu (pássaro):, cabelo estilo tigelinha com franja, cabelo liso em forma de cuia; “as cadeiras“, os quadris, os ossos da bacia; “cadeirudo“, pessoa com os quadris largos (homem ou mulher); “calça-frouxa“, apelido de bêbado, que deixa as calças cair; “canela seca (perna de saracura):, pernas finas; “cangote“, a nuca; “cara-lisa“, cara-de-pau; “carcomido“, abatido, velho, acabado; “carioca“, esperto, malandro; “cariocada“, engenhosidade, inventividade; “cariocar“, sair-se bem duma situação; “carreira“, correria, pressa, a ação de por alguém pra correr; “cegueira“, afeição extrema, exagerada, a alguém ou a alguma coisa, colundria, falta de bom-senso; “chita“, tecido ordinário, de algodão; “coco“, a cabeça; “colundria“, muita amizade ou camaradagem, entra e sai; “comer o juízo de alguém“, insistir com alguém em um assunto;”coxé(ba)“, coxo, manco, manquitola; “currulapo“, movimento brusco, pulo.

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Palavras que começam com a letra “D” e “E”

dar fé“, atinar, dar tino de, notar, perceber, atentar, reparar; “derrela“, comida requentada, choca, insípida ou com muito molho; “embarangar“, tornar-se feia ou baranga (mulher feia); “encafifado“, intrigado, cismado; “encarreado“, em fila, enfileirado, alinhado; “enfarado, enfastiado“, saciado, satisfeito, com fastio; “enfestado, lorde“, bem vestido, bem-arrumado, pronto para festa; “enroscar“, ficar em casa debaixo de cobertor ou bem agasalhado em dias frios, abraçado com alguém; “ensebado“, sujo; “entrar/cair na farinha de cachorro“, sobrar pra alguém; se comprometer, se enrolar; acabar envolvido no problema, confusão, briga, imbróglio, etc.; “entrevado“, aquele que não se pode mover; tolhido, paralítico; “escadeirado“, de pernas bambas, descadeirado, de quadris fracos (animal ou pessoa); “esganado“, morto-a-fome, avarento; “esganar“, estrangular, enforcar; “espaduado” com a espádua (omoplata) ou os músculos dela distendidos; “espinhaço“, as costas, a coluna vertebral; “estrepe“, farpa ou felpa; “estruir“, desperdiçar (especialmente comida).

Palavras que começam da letra “F” a “J”

farinha perdida“, traste, pessoa inútil, zé-ruela, leso; “fastio“, aversão a comida, falta de apetite, repugnância, aversão, tédio, aborrecimento; “fato“, intestinos de qualquer animal; “fidalguia“, frescura (principalmente pra comer); “galego“, indivíduo loiro; “gambiarra“, baranga, mulher feia; “gastura“, prurido, comichão, coceira, arrepio, aflição, irritação nervosa, sensação desagradável, etc; “geisa-sequinha“, apelido de mulher pequena e muito magra; “goto“, glote, a lingueta existente na laringe; “graça choca“, riso sem motivo, brincadeira ou piada sem graça; “infuca“, enredo, fuxico, intriga, questão complicada, tentativa, experiência; “ininhavar“, comer com gula feito um morto-a-fome, sem deixar restos; “jegue ou “guede“, ludo, tipo de jogo em que as pedras se movimentam segundo o número de casas indicado pelos dados; “juízo“, mente, pensamento, bom-senso, cabeça, quengo.

Palavras que começam a letra “L” e “M”

labuá“, pessoa inepta, sem habilidade ou capacidade; “lambisgóia“, pessoa intrometida, metediça, atrevida; “lascar“, dar-se mal; prejudicar-se; lesar-se; “latomia“, barulho, confusão, algazarra, arruaça; “lavagem“, comida ruim (comida de porco); “leseira“, preguiça, moleza, qualidade ou ação de indivíduo leso ou tolo; tolice; idiotice; “leso“, idiota, amalucado, lesado; “librinado“, neblinado, embaçado (visão, tempo), bêbado de visão turva; “mal amanhado“, maltrapilho, mal vestido, mal arrumado; “malinar“, fazer travessura; “malinagem“, travessura (de criança), “menino malino, criança malina“, criança travessa; “mané-rego“, glutão, morto-a-fome; “mangar“, caçoar, rir de alguém; “mangolô“, comida misturada em panela, risoto de baiano; “melindroso“, cheio de melindre, delicado, sensível, mimado; “mirrado“, magro, seco, pouco, mesquinho; “morrinha“, enfermidade ligeira, ou indisposição física, leseira, achaque; “morta-a-fome“, glutão, mané-rego, esganado, mão-de-vaca, pão-duro, amarrado, cainho; “mucama ou mucamba“, empregada, babá ;”muxiba, muxibento, mixo“, mirrado, que não faz jus à foto, que não anima, murcho, seio flácido.

Palavras que começam da letra “N” a “Q”

na tanga“, em má situação financeira; na pindaíba; “nazarinar (variação de lazeirar, lazarar, influência de Lázaro, personagem bíblico), ter lazeira, estar morrendo de fome; “pachorra“, capricho, falta de pressa, lentidão, paciência; “panguão“, pessoa inútil, boião, farinha perdida; “par“, o osso par, omoplata, espádua, escápula; “passar o bigode“, fazer sexo; “pegar servido“, querer de mão beijada, não esforçar-se para ter algo; “peixeira“, facão; “pererinha“, pessoa idosa; “pinicar“, apertar um botão ou interruptor, beliscar; “piloura ou biloura“, síncope, desmaio, chilique, fricote, fanico, faniquito nervoso, loucura ou acesso de loucura; “poluxia“, um poema, um provérbio, um repente; “ponhar“, por, colocar; “por no sentido“, inculcar ou por na cabeça uma responsabilidade; “prazezão“, esbanjador, pessoa pródiga e festeira; “precata” (corruptela de alpargatas), chinelo, sandália; “príncipe ou príncipa (sic)“, filhinho(a) do papai ou da mamãe, mimado; “pitoco“, mendigo; “quartos“, ancas, cadeiras, quadris; “quede“, sapato, tênis; “quengo“, cabeça, inteligência.

Palavras que começam da letra “R” a “X”

reclame“, a “mistura” da comida, o “recheio” da bolacha, etc.; “remedar“, arremedar, imitar alguém de zombaria, para caçoar; “revestrés“, de revés, de lado; “rolô“, gordo; “sestro“, vício, hábito, mania, balda, cacoete; “siligristido“, metido a besta, saliente, espevitado, assanhado, saído; “soverter“, desaparecer, sumir-se; levar fim; “sujismundo“, sujo, ensebado (quem nasceu entre 70 e 80 ouvia isso da mãe); “tochar“, encher, lotar, comer, não sair de um lugar; “tochito“, qualquer bebida não alcoólica geralmente para criança; “trama“, negócio, contrato, barganha, conluio, conspiração, procedimento ardiloso, rolo, velhacaria; “tramar ou fazer trama“, fazer negócio, ganhar dinheiro, fazer conluio; “tramoso“, aquele que faz muita trama, empreendedor, velhaco; “treita“, treta, ardil (plano ardiloso), estratagema; “tubo“, refrigerante, água com gás; “usura“, ganância; “xixo“, do churrasco gaúcho, espeto de carnes variadas e por aí vai…

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Qual é o significado do ditado “Balaio Novo Tem Três Dias de Torno”?

Lembro-me de que essa expressão era muito utilizada pelos meus familiares como se fosse um ditado popular. O significado da expressão “Balaio novo tem três dias de torno” é que uma novidade dura pouco tempo. E era verdade, com o passar do tempo, naturalmente o alvoroço, a empolgação e até a briga das crianças por causa de algo novo (um brinquedo, uma roupa ou um aparelho qualquer) que chegava em casa em pouco dias se desvanecia. Vejo uma relação desse ditado com outros ditados populares, como: “fogo de palha” e “a bola da vez”. Já que “fogo de palha” é algo que desperta grande entusiasmo, mas que logo passa. Ao passo que “a bola da vez” é algo que é o centro das atenções durante o momento atual, mas logo haverá outra “bola da vez”.

E quanto a você? Que “dialeto” você fala quando está reunido com a sua família ou com os seus amigos? Nos diga por favor de onde você é e que “dialeto” você fala. Compartilhe conosco a sua bagagem linguística.

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